domingo, 3 de outubro de 2010

Os caminhos de Jacinto

Proposta de percurso pedestre que de acordo com o relato do romance “A Cidade e as Serras”, tem início na Estação de Tormes (Aregos-Baião) prolongando-se serra acima por caminhos de natureza até Tormes ou Quinta de Vila Nova. A Estação é um dos elementos fundamentais do itinerário, pois é neste cenário que a expectativa urbana se confunde com a rusticidade do lugar, onde a curiosidade sobranceira de Jacinto se verga perante a graciosidade acolhedora da pequena infra-estrutura instalada entre a serra omnipresente e a, agora, calmaria das águas do rio. Na verdade, vindo de comboio ou tendo chegado de autocarro, não deixará de se erguer do seu banco e assomar às janelas para esperar com alvoroço a pequenina Estação de Tormes, que lhe aparecerá clara e simples à beira do rio entre as rochas. Embora não vá encontrar os seus vistosos girassóis, nem as duas altas figueiras poderá observar, ainda, por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo, os painéis de mosaico com referência a momentos e temas estruturantes da obra de Eça “A Cidade e as Serras”, bem como o rio Douro, onde já não correm os rabelos carregados de sacrifícios e de vinho para o Porto, mas cruzeiros pressurosos com turistas curiosos das preciosidades durienses.
Observe em seu redor e, entre cogitações, confira que Eça tinha razão, esqueçam-se aqui todos os males ante a inesperada beleza daquela terra bendita, composta pelo divino artista numa das suas manhãs de mais solene e bucólica inspiração. De espírito aliviado pela divina paisagem, não espere ter a sorte de Jacinto e Zé Fernandes, pois nem a égua russa nem o burro de Sancho o transportarão até lá acima. A alternativa é trepar até Tormes.
Caminhe com o devido cuidado junto da linha férrea acompanhando o rio para montante até encontrar um caminho que a atravessa e desce para a margem. Ao fundo está a Quinta da Tenchoadinha. Continue subindo até à estrada asfaltada que vem da Estação. Siga pela direita até atingir uma casa branca entre um canavial e, um pouco adiante, suba por um caminho empedrado. Não se exceda no esforço, para quando necessitar e aproveite para analisar a vegetação que o rodeia. No percurso vai encontrando carvalhos, oliveiras, choupos e, na beira do caminho, espargos bravos, cujos rebentos são muito apreciados cozinhados com ovos, entre outras propostas gastronómicas.
O primeiro edifício com ar senhorial que encontrará no interior de uma quinta em socalcos é a Casa da Capela. Um pouco mais adiante, à sua direita, vai avistar a Casa do Lodeiro. Por aqui abunda o pilriteiro, um arbusto que, na Primavera, dá flores brancas, além de bagas vermelhas que são a delícia das aves. Esta casa encerra algumas memórias trágicas, pois pertenceu a um amigo de Camilo Castelo Branco, José Augusto Pinto de Magalhães, que raptou Fanny Owen, com quem casou. O casamento não se consumou e a senhora faleceu tísica cerca de um ano depois. Por decisão do marido, o seu coração, esteve guardado, muitos anos, num frasco de vidro na capela da Casa. Camilo refere-se a este drama n' “O Bom Jesus do Monte” e em “Vinte e Quatro Horas de Liteira”, Augustina Beessa Luís em “Fanny Owen” e Manoel de Oliveira em “Francisca”.
Mas, afaste-se destas memórias e perscrute a paisagem envolvente que também seduziu Alves Redol. Deslumbre-se com os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (...) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros. Por aqui o ladino, elegante e vigoroso melro é o eterno animador do arvoredo. Muito tempo um melro nos seguiu de azinheira a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado irmão melro! Ramos de macieira obrigado. Aqui vimos, aqui vimos! E sempre contigo fiquemos, serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras!
Quando atingir a estrada de alcatrão deparam-se-lhe duas opções, igualmente válidas, para chegar até à Casa da Ladeira: seguir pela direita, junto à Casa da Torre de Cabeção, ou prosseguir alguns metros pela EN 108-2 e, novamente à sua direita, um pouco antes da pequena ponte junto à Casa de Pedreda, subir por um caminho mais íngreme que requer especiais cuidados pelo seu grau de dificuldade. Convém não esquecer que o “Caminho de Jacinto” colheu inspiração nas veredas que Eça efectivamente subiu ou que as gentes de Vila Nova e arredores faziam para apanhar o comboio. Por isso, é um caminho de ficção, reinventado agora nas variantes da fonte de inspiração original. Pode dizer-se que é também uma metáfora de todo o percurso interior que a personagem Jacinto vai realizando ao longo da novela.
Na verdade, vindo de comboio ou tendo chegado de autocarro, não deixará de se erguer do seu banco e assomar às janelas para esperar com alvoroço a pequenina Estação de Tormes, que lhe aparecerá clara e simples à beira do rio entre as rochas. Embora não vá encontrar os seus vistosos girassóis, nem as duas altas figueiras poderá observar, ainda, por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo, os painéis de mosaico com referência a momentos e temas estruturantes da obra de Eça “A Cidade e as Serras”, bem como o rio Douro, onde já não correm os rabelos carregados de sacrifícios e de vinho para o Porto, mas cruzeiros pressurosos com turistas curiosos das preciosidades durienses.
Observe em seu redor e, entre cogitações, confira que Eça tinha razão, esqueçam-se aqui todos os males ante a inesperada beleza daquela terra bendita, composta pelo divino artista numa das suas manhãs de mais solene e bucólica inspiração. De espírito aliviado pela divina paisagem, não espere ter a sorte de Jacinto e Zé Fernandes, pois nem a égua russa nem o burro de Sancho o transportarão até lá acima. A alternativa é trepar até Tormes.
Caminhe com o devido cuidado junto da linha férrea acompanhando o rio para montante até encontrar um caminho que a atravessa e desce para a margem. Ao fundo está a Quinta da Tenchoadinha. Continue subindo até à estrada asfaltada que vem da Estação. Siga pela direita até atingir uma casa branca entre um canavial e, um pouco adiante, suba por um caminho empedrado. Não se exceda no esforço, para quando necessitar e aproveite para analisar a vegetação que o rodeia. No percurso vai encontrando carvalhos, oliveiras, choupos e, na beira do caminho, espargos bravos, cujos rebentos são muito apreciados cozinhados com ovos, entre outras propostas gastronómicas.
O primeiro edifício com ar senhorial que encontrará no interior de uma quinta em socalcos é a Casa da Capela. Um pouco mais adiante, à sua direita, vai avistar a Casa do Lodeiro. Por aqui abunda o pilriteiro, um arbusto que, na Primavera, dá flores brancas, além de bagas vermelhas que são a delícia das aves. Esta casa encerra algumas memórias trágicas, pois pertenceu a um amigo de Camilo Castelo Branco, José Augusto Pinto de Magalhães, que raptou Fanny Owen, com quem casou. O casamento não se consumou e a senhora faleceu tísica cerca de um ano depois. Por decisão do marido, o seu coração, esteve guardado, muitos anos, num frasco de vidro na capela da Casa. Camilo refere-se a este drama n' “O Bom Jesus do Monte” e em “Vinte e Quatro Horas de Liteira”, Augustina Beessa Luís em “Fanny Owen” e Manoel de Oliveira em “Francisca”.
Mas, afaste-se destas memórias e perscrute a paisagem envolvente que também seduziu Alves Redol. Deslumbre-se com os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (...) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros. Por aqui o ladino, elegante e vigoroso melro é o eterno animador do arvoredo. Muito tempo um melro nos seguiu de azinheira a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado irmão melro! Ramos de macieira obrigado. Aqui vimos, aqui vimos! E sempre contigo fiquemos, serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras!
Quando atingir a estrada de alcatrão deparam-se-lhe duas opções, igualmente válidas, para chegar até à Casa da Ladeira: seguir pela direita, junto à Casa da Torre de Cabeção, ou prosseguir alguns metros pela EN 108-2 e, novamente à sua direita, um pouco antes da pequena ponte junto à Casa de Pedreda, subir por um caminho mais íngreme que requer especiais cuidados pelo seu grau de dificuldade. Convém não esquecer que o “Caminho de Jacinto” colheu inspiração nas veredas que Eça efectivamente subiu ou que as gentes de Vila Nova e arredores faziam para apanhar o comboio. Por isso, é um caminho de ficção, reinventado agora nas variantes da fonte de inspiração original. Pode dizer-se que é também uma metáfora de todo o percurso interior que a personagem Jacinto vai realizando ao longo da novela.
Na verdade, vindo de comboio ou tendo chegado de autocarro, não deixará de se erguer do seu banco e assomar às janelas para esperar com alvoroço a pequenina Estação de Tormes, que lhe aparecerá clara e simples à beira do rio entre as rochas. Embora não vá encontrar os seus vistosos girassóis, nem as duas altas figueiras poderá observar, ainda, por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo, os painéis de mosaico com referência a momentos e temas estruturantes da obra de Eça “A Cidade e as Serras”, bem como o rio Douro, onde já não correm os rabelos carregados de sacrifícios e de vinho para o Porto, mas cruzeiros pressurosos com turistas curiosos das preciosidades durienses.
Observe em seu redor e, entre cogitações, confira que Eça tinha razão, esqueçam-se aqui todos os males ante a inesperada beleza daquela terra bendita, composta pelo divino artista numa das suas manhãs de mais solene e bucólica inspiração. De espírito aliviado pela divina paisagem, não espere ter a sorte de Jacinto e Zé Fernandes, pois nem a égua russa nem o burro de Sancho o transportarão até lá acima. A alternativa é trepar até Tormes.
Caminhe com o devido cuidado junto da linha férrea acompanhando o rio para montante até encontrar um caminho que a atravessa e desce para a margem. Ao fundo está a Quinta da Tenchoadinha. Continue subindo até à estrada asfaltada que vem da Estação. Siga pela direita até atingir uma casa branca entre um canavial e, um pouco adiante, suba por um caminho empedrado. Não se exceda no esforço, para quando necessitar e aproveite para analisar a vegetação que o rodeia. No percurso vai encontrando carvalhos, oliveiras, choupos e, na beira do caminho, espargos bravos, cujos rebentos são muito apreciados cozinhados com ovos, entre outras propostas gastronómicas.
O primeiro edifício com ar senhorial que encontrará no interior de uma quinta em socalcos é a Casa da Capela. Um pouco mais adiante, à sua direita, vai avistar a Casa do Lodeiro. Por aqui abunda o pilriteiro, um arbusto que, na Primavera, dá flores brancas, além de bagas vermelhas que são a delícia das aves. Esta casa encerra algumas memórias trágicas, pois pertenceu a um amigo de Camilo Castelo Branco, José Augusto Pinto de Magalhães, que raptou Fanny Owen, com quem casou. O casamento não se consumou e a senhora faleceu tísica cerca de um ano depois. Por decisão do marido, o seu coração, esteve guardado, muitos anos, num frasco de vidro na capela da Casa. Camilo refere-se a este drama n' “O Bom Jesus do Monte” e em “Vinte e Quatro Horas de Liteira”, Augustina Beessa Luís em “Fanny Owen” e Manoel de Oliveira em “Francisca”.
Mas, afaste-se destas memórias e perscrute a paisagem envolvente que também seduziu Alves Redol. Deslumbre-se com os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (...) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros. Por aqui o ladino, elegante e vigoroso melro é o eterno animador do arvoredo. Muito tempo um melro nos seguiu de azinheira a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado irmão melro! Ramos de macieira obrigado. Aqui vimos, aqui vimos! E sempre contigo fiquemos, serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras!
Quando atingir a estrada de alcatrão deparam-se-lhe duas opções, igualmente válidas, para chegar até à Casa da Ladeira: seguir pela direita, junto à Casa da Torre de Cabeção, ou prosseguir alguns metros pela EN 108-2 e, novamente à sua direita, um pouco antes da pequena ponte junto à Casa de Pedreda, subir por um caminho mais íngreme que requer especiais cuidados pelo seu grau de dificuldade. Convém não esquecer que o “Caminho de Jacinto” colheu inspiração nas veredas que Eça efectivamente subiu ou que as gentes de Vila Nova e arredores faziam para apanhar o comboio. Por isso, é um caminho de ficção, reinventado agora nas variantes da fonte de inspiração original. Pode dizer-se que é também uma metáfora de todo o percurso interior que a personagem Jacinto vai realizando ao longo da novela.
Se tomar a primeira opção, pare junto á Casa da Torre de Cabeção e observe a paisagem que se desenvolve pela vertente até ao fundo do vale onde corre o rio Douro. Em frente tem a igreja e o cemitério de Santa Cruz do Douro onde repousa Eça de Queiroz e, por entre os vinhedos, casais e quintas em socalcos ouça o silêncio retemperador. Sinta como o meu Príncipe mergulhava na Odisseia, - e todo ele vivia no espanto e no deslumbramento de assim ter encontrado no meio do caminho da sua vida, o velho errante, o velho Homero! E como Ulisses meio adormecido, encantado, incessantemente – avistava longe, na divina Hélade, entre o mar muito azul e o céu muito azul, a branca vela, hesitante procurando Ítaca. Mas ... volte à realidade porque, para si, Ítaca é Tormes e tem de continuar a caminhar para lá chegar. Aprecie a amável aldeia e a água da pequena bica que vem lá de cima, de Queixomil, um lugar alcandorado por detrás de Tormes.
Está perante a última etapa. Tormes é já adiante, onde entrará pelas suas vinhas em socalcos. A casa emerge, pesada, por detrás dos jardins e da eira. Aproveite para repousar ou merendar junto de uma frondoso castanheiro, na pequena clareira adornada por um tanque cuja água outrora matou a sede aos que por aqui passavam. Após retemperar as forças, não o espera o atabalhoado Melchior mas uma agradável visita à casa de Tormes, o lar da Fundação Eça de Queiroz e uma incursão na ambiência literária, intelectual e física de Eça que jamais esquecerá.
Neste santuário queirosiano vai dar razão a si e a Jacinto quando decidiram deixar o aconchego urbano e entrar na deliciosa e saudável ruralidade profunda que o espaço do romance e você próprio testemunham. Reconheça porque o seu outro eu, com gravidade, deixou desabafar sobre si esta declaração formidável: Zé Fernandes, vou partir para Tormes. Álea jacta est!
Citações in “A Cidade e as Serras”
Download do mapa do Caminho de Jacinto